Friday, February 18, 2011

Lebres viram praga no interior de SP

Lebres viram praga em Paraíso
São José do Rio Preto, 12 de agosto de 2007
Guilherme Baffi
De pelagem marrom clara, a lebre atinge até 67 centímetros de comprimento

Gisele Bortoleto

Produtores rurais de Paraíso estão sofrendo ataque de um roedor até agora pouco conhecido na região de Rio Preto, a lebre. O animal, de um ano para cá, já atacou pelo menos 20% das mudas de citrus plantadas no município. Ao roer a casca do tronco, a lebre corta os vasos lenhosos que levam a seiva elaborada para toda a planta, que morre pouco depois. Ninguém sabe ao certo como se defender, uma vez que a caça, sob qualquer pretexto, é proibida no Estado de São Paulo pelo artigo 204 da sua Constituição. “O animal tem hábitos noturnos e é muito ágil. Por isso, nem cachorro consegue alcançar”, disse o vereador João Paulo Alves, filho de um produtor afetado pelo problema. Paraíso é o quarto maior produtor de laranja entre os municípios atendidos pelo Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Catanduva. Levantamento do órgão do mostra que atualmente existem 300 mil pés em produção e outros 20 mil pés novos. O município fica atrás apenas de Novo Horizonte, Itajobi e Ibirá.

A conta dos produtores é simples. A lebre ataca 20% das mudas com até um ano e meio de idade. Até agora, foram afetadas 4 mil delas. Ao custo de R$ 13 cada muda nessa idade, o prejuízo gira em torno de R$ 52 mil. O biólogo Arif Cais, do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce), campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Preto, afirmou nunca ter ouvido falar em ataques a citrus. “Provavelmente esses animais, que foram introduzidos pelo homem, estejam em uma área onde faltam outros alimentos”, disse o biólogo. Quando a lebre corta a casca da árvore, explica, impede que a água e sais minerais sejam levados do solo para a planta.

O citricultor José Joaquim Alves tem um sítio de 14 alqueires, com 5 mil pés novos de laranja. Ao perceber o ataque das lebres, ele tentou de tudo para afugentar os animais ou mudar o cardápio deles. Aumentou a quantidade de adubo, passou creolina nas mudas, plantou um pequena roça de feijão para tentar atrair as lebres, comprou ração para coelhos e até tentou assustar os animais à noite com barulhos de carros e buzinas, além de usar cachorros. Nada deu resultado. No início de julho, ele decidiu colocar uma proteção no tronco de cada muda, um gasto de R$ 750 a mais. “Vamos esperar que isso resolva o problema dessa praga”, disse o produtor. Ele teme também pelas plantas onde o ataque foi menor daqui para a frente. “Essas marcas são uma portaaberta para a entrada de doenças que também podem matar a laranjeira”, disse.

Situação semelhante vive o citricultor José Aparecido Finoto Roberto, presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Paraíso. Ele tem 9 mil pés novos de laranja e conta que, ao perceber os ataques, manteve contato com produtores de Ibitinga, onde já tinha sido registrado caso semelhante. “A lebre é muito arisca e tem hábitos noturnos, o que dificulta sua localização”, afirmou Roberto. O prejuízo dele até agora, apenas como as mudas, chega a R$ 23 mil. O biólogo Arif Cais alerta para o risco de uma rápida expansão das lebres para outros municípios da região. De fato, os produtores de Paraíso dizem ter conhecimento de ataques semelhantes registrados em Monte Alto, nas hortaliças, Urupês e Fernandópolis.

Existência de matas ameniza o problema
As regiões de Bauru, Botucatu e Marília estão entre as que registram maior incidência de lebres no Estado de São Paulo. A afirmação é do biólogo da Coordenação de Manejo de Fauna na Natureza do Instituto Brasileiro e Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), André Jean Deberdt. Estudo realizado na região de Bauru mostrou que a incidência da lebre européia é menor nos municípios que têm matas nativas, onde existem predadores naturais como a onça, o loboguará e o cachorro-do-mato. “O Rio Grande do Sul era o único Estado que permitia a caça da lebre, mas foi suspensa por falta de estudos que comprovassem a eficácia” disse o pesquisador.

A situação é mais complexa, segundo ele, no Estado de São Paulo, onde a caça, sob qualquer pretexto, é proibida pela Constituição. “Apesar de ser um animal introduzido e que não tem muitos predadores, a solução para o problema precisa ser encontrada pelo governo paulista”, disse o biólogo. Na região de Rio Preto, a ocorrência da lebre é em áreas com pastagens e capões de mata esparsos no entorno dos Reservatórios de Furnas (usinas hidrelétricas Marimbondo e Porto Colômbia), rio Grande (entre municípios paulistas de Planura e Icem e os mineiros Frutal e Uberaba), na divisa entre São Paulo e Minas Gerais.

Ibama espera ser informado sobre infestação
O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) somente poderá adotar medidas de controle após ser informado oficialmente pelos produtores de laranja de Paraíso. A informação é do agente de fiscalização do órgão em Barretos, Cassim Amim Ibraim. Segundo Ibraim, esta é a primeira vez que ataque de lebres européias é registrado na plantação de citrus região de Rio Preto. “Os produtores precisam se reunir e mandar um documento nos informando, para que possamos sentar e discutir quais são a medidas mais adequadas”, afirmou. Entre as ações que poderão ser autorizadas, após análise, estão desde a designação de um grupo de fiscais para captura desses animais até autorização para captura. “Precisamos conhecer o problema para saber que medidas deverão ser adotadas”, disse Ibraim. O vereador José Paulo Alves, filho de um dos produtores de laranjado município, disse que deverá encaminhar um ofício nos próximos dias ao órgão para que solicitar que alguma medida de controle seja adotada.

Animal veio da Europa
A lebre européia, cujo nome científico é Lepus europaeus, foi trazida para a América e levada para países como Argentina e Uruguai, de onde migrou para território brasileiro. Conhecidas no País também por lebre ou lebrão, o animal atinge entre 47 e 67 centímetros de comprimento e 30 centímetros de altura e chega a pesar entre 3 e 5 quilos. Seu tamanho é semelhante ao de um gato doméstico e a pelagem marrom clara. Tem hábitos diurnos e noturnos e é muito arisca, o que dificulta a captura. De acordo com o biólogo da Unesp de Rio Preto, Arif Cais, a lebre é um animal introduzido e criado inclusive para alimentação humana. “Essa foi uma praga que os ingleses introduziram na Austrália e é um dos problemas do País até hoje porque compete nas pastagens diretamente com os ovinos.

De acordo com informações do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, a lebre européia atinge a maturidade sexual aos 15 meses e tem de um a cinco filhotes por cria, após um período de gestação que dura aproximadamente 40 dias. O animal é parecido com um coelho, mas apresenta características distintas. A lebre possui corpo maior, patas traseiras mais longas e orelhas mais longas, com as pontas pretas. Atualmente, esses roedores causam estragos na agricultura dos Estados de Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A partir de 2003, segundo o informações do Ibama, começaram os relatos de infestação de lebres em propriedades de Goiás, o que mostra que a expansão é rápida.


4 comments:

Anonymous said...
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Anonymous said...

Como sempre as nossas leis protegem .Cobre o prejuizo ao ibama se ele protege é também o responsável pelo dano causado por seus protegidos

Unknown said...

se não for tomado providência não teremos mais o que plantar

Unknown said...

se não for tomado providência não teremos mais o que plantar