Monday, May 31, 2010

Avanços da pecuária no Brasil

Em tempos que tanto se fala, e com exagero, sobre os supostos impactos ambientais da pecuária de corte, a necessidade de ganho na produtividade aparece como solução viável para mitigar tais impactos.

No entanto, a pecuária vem avançando em produtividade há anos, desde o início da década de 70, o que iremos apresentar com alguns dados a seguir.

Conhecemos as dificuldades estatísticas para se analisar dados da pecuária brasileira, especialmente após a publicação do Censo 2006, que acabou agregando mais perguntas do que respostas.

O Censo de 2006 (IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) concluiu que o rebanho brasileiro seria de 171,6 milhões de cabeças. Porém, o mesmo IBGE indica um rebanho de 205,8 milhões de cabeças para o ano de 2006 na pesquisa pecuária municipal, ou PPM como é conhecida.

A diferença entre ambos os dados, em torno de 34 milhões de cabeças, supera o rebanho do México e da Austrália que ocupam, respectivamente, a oitava e a décima posição no ranking mundial de rebanhos bovinos, segundo a FAO (Food and Agricultural Organization), da Organização das Nações Unidas.

Ainda que o rebanho da Austrália seja o décimo maior do mundo, o país ocupa o quinto lugar no ranking de produção de carne bovina, também de acordo com a FAO. Essa comparação, sempre lembrada por diversos articulistas, nos serve para estabelecer o grau da seriedade da contradição entre as informações oficiais da pecuária brasileira.

Apesar de existirem diversas outras estimativas para o tamanho do rebanho brasileiro, não é lógico fugirmos dos dados do IBGE. É o único instituto que reúne informações suficientes para chegar o mais próximo possível da realidade. Os demais institutos, ou empresas privadas, não possuem orçamento e nem metodologia permanente para contabilizar o rebanho brasileiro.

Mesmo trabalhando com critérios rigorosos, e bem baseados para estimar o rebanho, não haveria como superar uma fonte pesquisada. Isso tudo aumenta a frustração em torno da divulgação de dados tão incoerentes sobre a mesma realidade.

Pois bem, o objetivo do texto é discutir o avanço da produtividade e não o tamanho do rebanho. Embora o tema seja de grande importância, muito já se falou sobre o assunto.

A mesma informação pesquisada pelo IBGE, que chegou ao rebanho de 171,6 milhões de cabeças bovinas no Brasil, identificou uma ocupação média de 0,93 hectare por bovino. Se o rebanho for realmente menor, estaríamos falando de uma área total de pastagens em torno de 159,6 milhões de hectares em 2006.

Todas as publicações e artigos consideram áreas de pastagens de 170 milhões a 220 milhões de hectares. A informação mais aceita é a área de pastagens em uso girando por volta de 175 milhões de hectares, além de outros 45 a 50 milhões de hectares degradados.

É outra informação que nos leva a questionar os dados do Censo de 2006. Pelo próprio censo anterior, realizado 10 anos antes, em 1996, estaríamos considerando uma redução da área da ordem de 17,9 milhões de hectares, frente a um aumento de rebanho da ordem de 18,5 milhões de cabeças. Essa área é proporcional a todo o pasto do Estado de Goiás.

Sendo assim, é preciso estabelecer parâmetros e optar por uma ou outra fonte de informação que seja contundente e possibilite compreender o ocorrido na pecuária brasileira.

Considerando que os critérios para coleta de informações do Censo tenham sido seguidos na pesquisa, é possível considerar que o dado de ocupação da área, divulgado no Censo 2006, seja coerente.
Em outras palavras, estaríamos assumindo que o Censo foi eficiente no tratamento dos dados coletados, mas ineficiente em coletar os dados de todo o rebanho nacional. É uma hipótese.

Com isso, teríamos o rebanho de 2006 oscilando de 171,6 a 205,8 milhões de cabeças e a área de pastagens entre 159,6 e 175,5 milhões de hectares.

Observe, na figura 1, a evolução da ocupação da área de pastagens nos últimos censos agropecuários realizados entre 1940 e 2006.

Hoje, o rebanho mais aceito entre os profissionais da pecuária de corte é o apresentado pela pesquisa pecuária municipal (PPM), o qual continuaremos a adotar até que informações mais coerentes sejam divulgadas.

Considerando que a eficiência de uso de pastagens veio aumentando proporcionalmente ao indicado pelos históricos dos Censos agropecuários, em 2009 a ocupação da área pela pecuária seria em torno de 1,16 animais por hectare.

Projetando o rebanho de 2009 pela pesquisa pecuária municipal podemos estimar um rebanho de 203,6 milhões de cabeças ocupando uma área de 174,95 milhões de hectares.

Observe, a figura 2, como o rebanho continua crescendo, enquanto as pastagens estabilizam-se por um período e começam lentamente a recuar nos últimos anos.

O recuo é comprovado pelo avanço da agricultura em áreas de pastagens nos últimos anos.

Claramente, na figura, é possível notar a redução do rebanho nos anos de ciclo de baixa nos preços. Neste período houve um aumento no número de cabeças abatidas. Logo em seguida, o rebanho voltaria a aumentar tanto pela redução do abate como pela retenção de matrizes, consequência da virada do ciclo pecuário para o período de alta.

Com pouca alteração anual nos índices de natalidade, a oscilação do rebanho é relacionada com os movimentos de aumento ou redução do abate. Este, por sua vez, depende da produção de carne para atender a demanda.

Na figura 3 é apresentada a produção anual de carne bovina em mil toneladas de equivalente carcaça. A definição de equivalente carcaça é uma forma de padronizar toda a produção industrial em carcaças bovinas.

Sendo assim:

1 kg de carne em carcaça = 1 kg de equivalente carcaça;
1 kg carne desossada = 1 ,3 kg de equivalente carcaça;
1 kg de carne industrializada = 2,5 kg de equivalente carcaça.

Comparando evolução da produção de carne com a evolução da área, nota-se um aumento de 84% na produtividade por área ocupada no período de 1994 a 2009. Observe a evolução da produtividade na figura 4.

O aumento da produtividade entre 2006 e 2007 é artificial, reflexo do descarte de matrizes, aliado a demanda favorável para a carne brasileira.

Traçando uma linha de tendência, e desconsiderando ambos os anos, chega-se aos 84% de ganho de produtividade neste período.

Veja que a produtividade de carne por área aumentou os referidos 84%, enquanto a lotação por hectare aumentou 30,7% no mesmo período, evidenciando que a maior parte do ganho de produtividade foi proveniente de tecnologias relacionadas ao próprio animal, ou tecnologias da área zootécnica.

Em termos agronômicos (pastagens e produção de forragens), a pecuária de corte ainda tem muito espaço para agregar em produtividade. Por isso que é possível afirmar que a produção de carne bovina no Brasil pode crescer muito mais, atendendo o mercado crescente em todo o planeta, e destinando maiores parcelas de suas áreas para a agricultura.

Para os próximos anos podemos esperar um ganho de produtividade bem superior ao que foi observado neste passado recente.

Em ocupação de área, rentabilidade e proteção ambiental, a pecuária brasileira pode ser muito mais relacionada a oportunidades do que a ameaças. Basta querer enxergar fatos e dados.

Saturday, May 15, 2010

Milho e soja: produtores do Sul podem economizar até 50% em aplicação de fósforo

Milho e soja: produtores do Sul podem economizar até 50% em aplicação de fósforo

Fonte: http://www.diadecampo.com.br/zpublisher/materias/Newsletter.asp?data=12/05/2010&id=21697&secao=Agrotemas
Correção progressiva torna solos suficientemente adubados e permite aplicações em menor quantidade
Juliana Royo
12/05/2010
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O fósforo é um nutriente fundamental em várias culturas como a soja e o milho, muito populares no Brasil. Sem o nutriente, estas culturas não conseguem se desenvolver e a produtividade delas está diretamente ligada à quantidade de fósforo presente no solo. Como as terras brasileiras sempre foram muito pobres em fósforo, os agricultores se acostumaram a aplicar grandes quantidades do nutriente a cada safra. Só que, com o passar dos anos, as seguidas aplicações resultaram em um solo corrigido e mais bem preparado e o que se recomenda hoje, nas regiões ao Sul do País, é que os produtores façam análises de solo para saberem a real necessidade das suas terras e perceberem que podem aplicar o nutriente em uma quantidade muito menor do que a maioria pensa.

A empresa Conplant fez um estudo, encomendado pela Agrisus (Fundação Agricultura Sustentável), para analisar o nível de fósforo em diversos pontos do território nacional onde se cultiva milho e soja. As amostras foram coletadas durante o Rally da Safra 2009, em 1.171 locais das cinco regiões do Brasil, em duas profundidades diferentes, de zero a cinco centímetros e de cinco a dez centímetros. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que nos Estados do Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) e no Sul do Estado de São Paulo, os níveis de fósforo já são suficientes, por conta do acúmulo de aplicações ao longo dos anos, e que portanto os agricultores destas regiões poderiam diminuir o fósforo aplicado a cada safra em mais de 50%.

— Depois de alguns anos de plantio esse fósforo se acumula no solo de modo que não é mais necessário se aplicar tanto quanto se aplicava anteriormente. Uma proposta que a Agrisus está levantando é que, em vez de se aplicar 60 ou 80 quilos de fósforo todo ano como o agricultor faz, como uma forma de garantia de que o solo estará suficientemente adubado, o melhor seria testar. Quando você já tem alto teor de fósforo no solo pode usar doses menores de 30 quilos, isso reduz bastante o custo da adubação e também preserva o fósforo para ser usado mais a longo prazo, porque o fósforo é um elemento limitado na natureza. Por isso, é importante fazer a análise de solo porque ela é a garantia do uso correto da tecnologia — explica Ondino Cleante Bataglia, pesquisador aposentado do IAC e sócio da empresa Conplant.

Com as análises de solo, os agricultores passam a conhecer melhor a sua terra e entender qual é a necessidade dela. No Sul, muitos vão descobrir que estão desperdiçando fósforo e que podem ter uma economia significativa de dinheiro, que pode ser investido em outras melhorias de plantio. A fosfatagem, que é a aplicação de fósforo a lanço, como se faz com calcário, já foi muito usada no Cerrado brasileiro, mas é uma técnica muito cara e, às vezes, desnecessária. Com a análise de solo, o produtor pode economizar dinheiro e mão-de-obra. Bataglia explica que, na análise de solo, o fósforo é determinado por uma unidade chamada miligrama de fósforo por decímetro cúbico (mg/dc³). Acima de 40 mg/dc³ já é um teor considerado alto e, neste caso, a adubação pode ser reduzida para 30 quilos de fósforo por hectare, enquanto que em um teor baixo o produtor pode usar até 100 quilos por hectare.

"Fósforo pode ser
aplicado em quanti-
dade menor do que
maioria pensa"


Ondino Cleante Bataglia,
do IAC