Blog Agronegócio
Com Marina e Izabella
Postado em 21 de Setembro de 2010 às 16:09 na categoria ArtigoCom um intervalo de dez dias, entre o final de julho e o início de agosto de 2010, tive o privilégio de dialogar com as únicas mulheres que já chefiaram o Ministério do Meio Ambiente, hoje na linha de frente do governo brasileiro. A ex-ministra Marina Silva esteve na Única em visita como candidata à presidência. A atual ministra Izabella Teixeira compareceu à reunião ampliada do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República.
A figura esguia de Marina me faz lembrar Zeferina Baldaia, a atleta descoberta nos canaviais de Sertãozinho. Ambas têm origem humilde e sofrida. Ambas deram a volta por cima e chegaram ao pódio em suas carreiras. Agora, enquanto Zeferina é vereadora e candidata a deputada, a ambientalista nascida no Acre tenta ser a primeira presidenta do Brasil, um país onde tudo se tornou possível depois que um retirante nordestino conquistou o Planalto.
Na visita à central da indústria canavieira, Marina insistiu na necessidade de se fazer respeitar o percentual mínimo de 20% de vegetação original em toda propriedade rural. Depois de ouvi-la, fiz a pergunta que mais frequentemente me ocorre em termos ambientais: quantos hectares de mata são derrubados a cada hora de conversa fiada e de debates bem intencionados sobre o futuro do planeta?
A resposta existe, e vem de várias fontes, mas infelizmente não resulta em ações concretas. Em junho passado, segundo a ONG Imazon, foram cortados 172 quilômetros quadrados de matas, 15% mais do que em junho de 2009. Por baixo, isso dá pelo menos 5 quilômetros quadrados por dia; uns 200 mil metros quadrados por hora ou, seja, cerca de meio campo de futebol por minuto.
Estimados a partir de informações de satélites, esses números se refletem em diversas atividades econômicas geradoras de empregos, renda, tributos e investimentos, mas no balanço ambiental o que sobra é mais aquecimento global. Outra pergunta pertinente: se temos tecnologia para quantificar o problema, por que não avançamos na solução?
Ora, essa renitente tolerância com o desmatamento e outras mazelas ambientais é uma armadilha contra nossa autonomia. Pela lógica empresarial, é prioritário parar de desmatar onde quer que seja, especialmente em nosso maior ativo ambiental, cuja imensidão faz do Brasil o país mais verde do mundo.
Precisamos enfrentar a contradição em que nos colocam os ambientalistas daqui e de fora. Eles nos fazem sentir culpa por desmatar, e nem nos perguntamos a quem serve a madeira clandestina ou legalizada à sombra de alguma autoridade corrupta. O mesmo acontece com plantas medicinais, animais exóticos e minérios raros, em torno dos quais há uma rede internacional de empresários-traficantes a serviço dos chamados mercados globais.
Nessa ficção denominada “comunidade internacional” não há ninguém com moral para criticar o Brasil. No outro lado do Atlântico só vejo empresas e países querendo comprar crédito-carbono. Para quê? Para poder continuar jogando CO2 na atmosfera.
Cabe aos brasileiros desfazer-se do complexo de viralata, segundo o qual, agora, é feio plantar. Feio é negar-se a assinar o Protocolo de Kyoto, como fez o governo americano.
Nós brasileiros devemos nos orgulhar de ser uma potência agrícola emergente. Felizmente temos muita terra para cultivar de forma sustentável, saciando a fome da população local e exportando alimentos para o mundo. Nossas lavouras ocupam apenas 70 milhões de hectares. De cana são 9 milhões de ha, de soja não saímos de 20 milhões. Nossa produção anual de grãos é relativamente pequena, ainda não chegou a 150 milhões de toneladas por ano.
Parece um desabafo, mas foi isso mesmo que falei no encontro da Única com Marina Silva e, em Brasília, na reunião do CDES, na presença dos ministros Wagner Rossi da Agricultura, Guilherme Cassel do Desenvolvimento Agrário e Izabella Teixeira do Meio Ambiente. Pela primeira vi o trio ministerial responsável pela produção agrícola, a ocupação das terras e os cuidados ambientais com um discurso alinhado, buscando uma atuação harmônica em favor da agricultura brasileira.
À ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que me pareceu uma pessoa madura e sensível, fiz questão de lembrar que a culpa do desmatamento da Amazônia não é de seu ministério, mas da impunidade construída por todos nós – desde os contraventores nos sertões até os legisladores em seus gabinetes. Até quando vamos continuar com esse faz-de-conta?
Se cuidarmos de nosso jardim, ninguém mais se sentirá no direito de nos ensinar a cuidar de nossa casa. Um país com clima favorável, fartura de terras, tecnologia avançada e grande potencial de produção rural, além da melhor matriz energética do mundo, não pode continuar sendo o alvo de críticas de países sem verde.
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