A nova ofensiva de expropriações do presidente Hugo Chávez preocupa fabricantes de máquinas e implementos agrícolas do Brasil, que têm na Venezuela seu principal mercado de exportação na América Latina. Representantes do setor no Brasil preveem um colapso nas vendas para o país vizinho e acusam o governo brasileiro de apoiar o sucateamento do setor produtivo na Venezuela.
No domingo, Chávez anunciou a expropriação da Agroisleña, maior empresa de distribuição de produtos agrícolas do país. Além dela, o governo prometeu tomar cerca de 300 mil hectares pertencentes ao grupo britânico Vestley.
Segundo Celso Casale, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos ), a Agroisleña é responsável por cerca de 60% de toda a importação de maquinário agrícola brasileiro na Venezuela.
Atualmente, o Brasil vende para o país vizinho cerca de US$ 150 milhões por ano em máquinas agrícolas como colhedoras, misturadoras de ração, espalhadoras de material orgânico etc.
Casale afirma que a expropriação criou um clima de insegurança no setor. "Representantes comerciais brasileiros estão deixando a Venezuela por temer o clima belicoso", afirmou. Ontem, tropas da Guarda Nacional venezuelana ocuparam as instalações da Agroisleña em todo o país.
"Os donos da empresa estão ligando para os fornecedores brasileiros pedindo para que eles não embarquem os produtos encomendados até que a situação se aclare", afirma. Essas encomendas já estariam cobertas por cartas de crédito garantidas por bancos brasileiros, o que significa que não haveria prejuízo para os fabricantes no Brasil.
"O problema mesmo é o cenário que se desenha", diz Casale. Ele crê que as expropriações e o programa de reforma agrária da Venezuela vão acabar com o mercado explorado pelo Brasil. "Vendemos máquinas para fazendas de médio e grande porte. Se elas forem desmembradas, nosso mercado acaba", prevê.
Além de tudo, o dirigente setorial e empresário reclama do componente político. "É muito ruim que o governo brasileiro e sua candidata a presidente apoiem e sejam identificados com essa situação."
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil afirma que dá apoio às empresas brasileiras no exterior, mas que as expropriações e a reforma agrária da Venezuela são assuntos internos e soberanos do país vizinho.
Chávez argumenta que a expropriação da Agroisleña tem como objetivo reduzir os preços de sementes, fertilizantes e maquinários vendidos pela empresa, "antes acostumada a especular com esses tipos de produtos".
Segundo o presidente venezuelano, essa especulação contribuiu para elevar os custos de produção e, consequentemente, os preços dos alimentos.
Desde o início do governo Chávez, em 1999, mais de 2,5 milhões de hectares foram incluídos na reforma agrária. Segundo estimativa da Federação Agrícola da Venezuela, que faz oposição ao governo, só 50 mil hectares desapropriados estariam agora produzindo, e o país aumentou sua dependência em relação à importação de alimentos.
Líderes de oposição recém-eleitos para a próxima legislatura venezuelana acusam o governo Chávez de estar destruindo o setor produtivo do país e prometeram combater as de expropriação quando a nova Assembleia Nacional tomar posse, em janeiro. Desde 2005, quando a oposição boicotou as eleições, o governo consegue aprovar seus projetos com facilidade no Legislativo.
Para José Manuel González, ex-presidente da Fedecámaras e da Fedeagro, associações patronais da indústria e da agricultura, "o Executivo montou as "agrotiendas socialistas", que não funcionam. Desesperado, resolveu expropriar a empresa mais eficiente do mercado. Não podemos deixar que isso ocorra", disse ele, que foi eleito para a Assembleia em setembro.
Não está se a oposição terá força para isso no Legislativo.
Eduardo Gómez Sigala, deputado de oposição também recém-eleito, diz que "há um desabastecimento crônico no país e a única resposta do governo é acelerar as expropriações. Vamos a atuar e animar os setores para que se manifestem contra esse processo".
Governistas dizem que a decisão de expropriar a Agroisleña "está apegada às normas legais do país e aos convênios internacionais que resguardam o ambiente". O governo acusa a empresa de vender herbicidas e pesticidas poluentes. (Com agências internacionais)
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