Em reunião da Câmara Temática de Agricultura Sustentável e Irrigação, realizada no Ministério da Agricultura no dia 2 de agosto, o representante da CNA informou aos membros presentes que, ainda em agosto, a Confederação promoverá um evento para discutir a “Pegada Hidrológica” dos produtos agropecuários, convidando um especialista da USP para debater o tema.
Por pegada hidrológica entende-se a quantidade de água “consumida” para se produzir um determinado produto ou alimento e que está virtualmente incorporada aos mesmos. Diz-se, por exemplo, que para produzir um quilo de carne, se consome 15.000 litros de água, para produzir um quilo de tomate se consome 600 litros, uma taça de vinho se gasta 120 litros, para se produzir uma xícara de café se consome 140 litros, e assim por diante.
Esse é um tema que merece reflexão, principalmente por parte dos técnicos envolvidos no processo produtivo agropecuário (engenheiros agrônomos, médicos veterinários, zootecnistas), pelos próprios produtores rurais e suas entidades representativas, vez que o mesmo é mais um imbróglio criado por nós mesmos, ou por organizações que, ao difundir e repetir inverdades inconseqüentes, leva o público urbano a uma visão distorcida e paranóica do que é a produção agropecuária.
Todos sabemos que o volume de água no planeta Terra, regulado pelo ciclo hidrológico, é constante e inalterado ao longo do tempo. Que a agropecuária pode, inclusive, ser uma aliada no que se refere a sua preservação, quando falamos em Plantio Direto, e em sua melhoria da qualidade nos cultivos irrigados, com o reuso em todo seu processo, seja na fisiologia da planta ou em seu caminhamento pelo perfil do solo.
Sabemos que a água é um dos principais insumos no processo produtivo agropecuário. Entretanto, sabemos claramente que essa água não é “consumida” como apregoam os catastrofistas de plantão. Mas sim, retorna ao ciclo hidrológico em sua forma pura de vapor d’água. Portanto, a água não é consumida, mas usada para um fim nobre, que é a produção de alimentos, retornando na forma de chuva aos nossos mananciais.
Essa nova moda chamada “pegada hídrica” que espertalhões jogam para a sociedade urbana, é apenas mais uma forma de desfocar a atenção e ações para os reais problemas da sociedade, em especial a brasileira. Daí um coro de ‘especialistas” apresenta um tema novo, com vistas a ganhar espaço na mídia e importância entre seus pares. Mesmo que para isso seja preciso usar de uma inverdade científica.
O real problema relativo a água no Brasil está no tratamento do esgoto urbano. O saneamento básico atende, atualmente, apenas 43% de nossa população. Jogado diretamente em nossos mananciais, o esgoto urbano representa poluição e doenças de veiculação hídrica, além dos impactos negativos em toda a vida aquática. Isso sim, merece discussão e empenho de toda sociedade no sentido de que o mesmo seja minimizado em benefício da sociedade.
Outro problema que diretamente afeta a qualidade do solo e da água, são os lixões espalhados a céu aberto, onde humanos, urubus e ratos, apenas para falar em bichos de grande porte, chafurdam nesse ambiente insalubre e fétido. Basta que nos transportemos, mesmo que mentalmente, até a periferia de uma cidade qualquer desse país.
Estes sim, deveriam ser nosso foco principal. Tratar de mazelas como o esgotamento sanitário e o lixão sólido, e assim, estar efetivamente cuidando de nossas águas, de nosso meio ambiente.
Ao agricultor cabe cuidar da produção de alimentos de qualidade, com sustentabilidade ambiental e, dessa forma, contribuir para com a segurança alimentar do planeta. Pegada hidrológica pode ser tema de discussão entre ecologista de asfalto ou aproveitadores das pessoas menos informadas.
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