|                                       Carregando...                            A sociedade intensifica cada vez mais o debate sobre  sustentabilidade. E ao mesmo tempo que opiniões e especulações são  difundidas, a ciência e os fatos continuam ficando de lado.  A agropecuária ainda é vista com preconceito. Cientistas ou  profissionais que defendem os ganhos da produção rural são vistos com  desconfianças e, não raras vezes, são desacreditados em debates ou  artigos publicados em jornais de grande circulação.  A triste realidade é que a crescente preocupação da sociedade não é  acompanhada pela busca de informações concretas, pesquisadas ou  embasadas tecnicamente. Tanto é que tentou-se associar a tragédia da  região serrana do Rio de Janeiro ao o debate em torno do código  florestal.  Um assunto tão sério como a produção sustentável é dominado por  grupos que empunham bandeiras ideológicas, despreocupados com os  resultados. Seu objetivo é a divulgação, a polêmica e a obtenção de  fundos cada vez maiores.  Na verdade, pouco se sabe sobre sustentabilidade nas áreas urbanas.  No campo, a realidade é diferente e vários exemplos podem ser enumerados. Um deles é o plantio direto.  O plantio direto é uma tecnologia que começou a ser difundida em  meados da década de 70. Ganhou força principalmente no estado do Paraná,  onde os produtores inovaram com mais intensidade.  A técnica substitui o tradicional preparo do solo, antes do plantio.  No modelo tradicional, as terras são aradas e gradeadas antes do  plantio. Depois dessas operações, é que os agricultores semeiam o solo e  conduzem a plantação até o momento da colheita. O excessivo preparo do  solo é uma herança da agricultura européia, onde os solos congelavam ou  esfriavam demais antes do período de plantio. Por lá sim, é preciso  revolver o solo.  No Brasil, o revolvimento do solo não seria necessário, sendo que um  simples cultivo ou gradagem leve já permitira que o solo fosse semeado  sem grandes complicações às futuras plântulas. Ainda sim, seria preciso  limpar o solo com operações mecanizadas.  Após a revolução verde, e o advento dos produtos químicos baseados em  moléculas cada vez mais sofisticadas, portas se abriram para o  estabelecimento de uma nova tecnologia: o plantio direto.  Solo e clima tropical, que dispensa a necessidade de aração, e  produtos que permitem limpar a área reduzindo a competição com as  culturas de interesse, foram suficientes para atrair a criatividade  técnica do brasileiro, além da disposição do produtor em inovar e  arriscar experimentar novas técnicas.  O resultado de tudo isso foi uma revolução silenciosa e benéfica nas  fazendas brasileiras. O plantio direto, em pouco menos de 35 anos,  conquistou quase 32 milhões de hectares, e não pára de crescer.  Veja a evolução da área de plantio direto no Brasil, na figura 1.   
  E o plantio direto não parou apenas na produção de grãos. Outras  culturas começam a experimentar e adaptar os conceitos do plantio  direto.  Tecnicamente pode-se dizer muito sobre o plantio direto, mas não é  caso. O objetivo aqui é falar dos benefícios ambientais da técnica de  produção, presente em praticamente todas as fazendas que fazem da  produção de grãos um negócio sustentável e produtivo.  Algumas pesquisas identificaram redução em mais de 90% na massa de  solo perdida por erosão, conforme pode ser conferido na figura 2.   
  No debate ideológico, pautado sempre por leigos na área rural, quase  nunca se lembra das erosões. A erosão é uma das maiores ameaças  ambientais que podem vir de dentro das propriedades rurais.  E várias são as razões que podem tornar um solo mais ou menos  erodível. São fatores relacionados a estrutura física do solo,  topografia, regime de chuvas, uso do solo, cobertura e medidas de  controle.  Quanto maior o volume de chuvas, maior a tendência de erosão. Por isso o risco maior em países topicais.  Por manter a cobertura vegetal e também por praticamente eliminar o  revolvimento do solo com a agropecuária, o plantio direto é extremamente  eficiente no controle de erosão. Controlando a erosão, evita-se que  solos sejam depositados em rios ou córregos.  Com base nos dados da figura 2, pode-se estimar que por volta de 835  milhões de toneladas de solo deixam de ser jogados nos rios brasileiros  pela prática do plantio direto.  Junto com o solo que não é erodido, fica também os nutrientes  contidos no solo. Só de não ir para os rios, os benefícios já são  enormes para o ambiente. Mas quando os nutrientes continuam presentes no  solo, há o aumento da produtividade da área. Em outras palavras,  precisa-se adubar menos para obter o mesmo ganho em produção.  Observe a comparação entre plantio convencional e plantio direto na perda de nutrientes por erosão.     A sustentabilidade por trás da figura 3 vai ainda mais além. Se tais  nutrientes fossem perdidos, os mesmos precisariam ser repostos nas  próximas ou próxima safra. Sendo assim, seria necessário gastar energia e  combustível para produzir os nutrientes, transportá-los e aplicá-los na  área.  Esse montante precisaria ser computado nos ganhos conseguidos com o plantio direto.  E os benefícios não cessam por aí. A economia em operações  mecanizadas dentro das fazendas, em si, já representa uma significativa  economia energética.  Segundo dados de órgãos oficiais, o plantio direto economiza cerca de  42 litros de diesel por hectare a cada safra, quando comparado ao  plantio convencional.    Extrapolando o dado pela área total de plantio direto, podemos  estimar uma economia de 1,3 bilhão de litros de diesel por ano, no  Brasil. Essa economia é apenas direta, dentro das fazendas. Não se  contabilizou os ganhos indiretos, por trás de outras atividades, como o  exemplo dos fertilizantes relatado anteriormente.  A queima de cada litro de diesel libera o equivalente a 2,68 kg de  CO2, o que representa uma redução de 112, 56 kg de equivalente CO2  /ha/ano.  Pesquisas também concluem que o manejo da palha ou resteva, no  plantio direto, permite incorporar 250 kg de carbono/ha/ano. Em  equivalente gás carbônico (CO2), essa quantidade soma 910 de CO2/ha/ano.  Somando apenas os ganhos diretos, podemos concluir que o saldo do  plantio direto, por hectare, é de 1.212,56kg de CO2 sequestrados por  ano.  Extrapolando mais uma vez para toda a área de plantio direto, podemos  estimar a economia na emissão de 37,9 milhões de toneladas de CO2. O  montante é equivalente a 10,5% do total estimado de emissões de gás  carbônico pelo Brasil. Veja a figura 4.     Em outras palavras, sem o plantio direto, as emissões brasileiras de gás carbônico seriam, no mínimo, 10% superiores.  Trata-se de uma contribuição significativa incorporada por medidas  voluntárias que estão se consolidando há anos nas fazendas brasileiras.  Sem alarde, sem propaganda e nem discursos; o produtor melhora e  produz com cada vez mais sustentabilidade. Não são com palavras e nem  com crendices que se melhora o mundo. Isso se faz com ação e aplicação  de conhecimento técnico.     | 
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