ESTADÃO.COM - 21 JUL 11
Alberto Tamer
 Um estudo que levou três anos do respeitadíssimo Council of Foreign   Relations, divulgado na semana passada, afirma que os Estados Unidos   deveriam dar mais atenção ao Brasil, um país que desponta no cenário   mundial. Não é bem assim. É meia-verdade. Os EUA têm dado muita atenção,   sim, quem rejeitou até agora foi o governo brasileiro, que praticou  uma  política externa de fogo de artifício, brilham por segundos e   desaparecem.
 O Brasil apoiou o Irã na questão nuclear, se aproximou de Hugo Chávez e relegou o mercado americano a um segundo plano.
 Além  disso, o ex-presidente Lula manteve no cargo por oito anos Celso   Amorim, talvez o pior ministro das Relações Exteriores que o Brasil já   teve. Uma das nossas colunas denunciou esse fato, afirmando que "a   ideologia atrapalhava o comércio brasileiro". Tudo o que vinha dos EUA   era ruim para o Brasil, só que o mercado americano é apenas o maior do   mundo... Eles importam anualmente US$ 1,1 trilhão! E nós exportamos para   eles, no ano passado, sabem quanto? US$ 19,4 bilhões...
 Esnobamos os  EUA, que importam 66% de tudo que vendemos em produtos  industrializados  e nos apegamos agora à China que compra só commodities  agrícolas,  petróleo, soja, e exporta para o Brasil 90% de  industrializados.
 Melhorando,  mas pouco. A situação está melhorando no atual governo, mas  temos muito  a recuperar. No primeiro semestre, as exportações para os  EUA cresceram  30%, mas são apenas 10% das vendas totais do Brasil. E  isso porque  importam industrializados, produtos nos quais perdemos  espaço para a  China nos Estados Unidos, no mundo e... aqui também. E  querem saber  quanto? Uma enormidade!
 Vejam só isso! Os números do Bureau of  Economics Accounts, (BEA) dos  Estados Unidos assustam . Em 2002, os  Estados Unidos importaram, de  todos os países, o equivalente a US$  693,10 bilhões. Pois em 2010,  passaram para US$ 1,28 trilhão. Foi um  crescimento de 84,43%. A  variação até 2008 foi um pouco maior, 85,75%, e  é fácil compreender  essa diferença, porque 2009 e 2010 foram anos de  recessão e, portanto,  de importações menores.
 E o Brasil nisso? As  vendas brasileiras para os Estados Unidos  cresceram 94,1% até 2008, ano  da recessão. Quando se considera a  diferença entre 2002 e 2010, a  expansão é de apenas 52,92%, porque a  demanda americana encolheu nos  últimos dois anos. No conjunto, parece  um desempenho satisfatório, mas  não é porque vários outros países  aumentaram as vendas em mais de 100%  para o mercado americano, deixando  o Brasil para trás a ver estrelas.
 Eles  crescem mais de 100%! Apesar de sobrecarregar o leitor com  números,  vamos dar as importações americanas em dois períodos,  2002-2008 - ano de  crise financeira - e 2008-2010, para evitar  distorções entre os dois  últimos anos de recessão e os anteriores, até  2002, quando eles  importaram menos:importações do Brasil até 2008 -  mais 94,15% até 2008.  Desse ano, até o ano passado, mais 54,9%.
 E vejam agora os outros. As  importações da China até 2008 aumentaram  nada menos que 170,58% (!!) e  191,68% (!!!) até 2010. Nos dois casos o  ano base é 2002. Com crise e  tudo. Quase quatro vezes mais do que o  aumento das vendas brasileiras  para os EUA. Pode-se ver que mesmo na  fase de recessão, as importações  da China quase dobraram!
 O mesmo acontece com as importações da  Índia, que aumentaram 118,72%  até 2008 e 150,76% até 2010. De novo,  crescimento enorme apesar da  recessão. Conjunto das Américas Central e  do Sul: 84,16% até 2008 e  78,47% até 2010. Considerando-se o período até  2010, portanto, a região  teve um desempenho geral melhor que o do  Brasil.
 A conclusão é triste e simples: o Brasil deixou de dar  prioridade ao  mercado americano, em busca do sonho dos países do Sul, e  perdeu espaço  para outros países, mais realistas, que ocuparam o seu  lugar. O Brasil  errou e só agora está percebendo disso. Uma tarefa árdua  e ingrata  para o novo governo que pode levar anos.
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