Em tempos que tanto se fala, e com exagero, sobre os supostos  impactos ambientais da pecuária de corte, a necessidade de ganho na  produtividade aparece como solução viável para mitigar tais impactos. 
No entanto, a pecuária vem avançando em produtividade há anos, desde o  início da década de 70, o que iremos apresentar com alguns dados a  seguir.
Conhecemos as dificuldades estatísticas para se analisar dados da  pecuária brasileira, especialmente após a publicação do Censo 2006, que  acabou agregando mais perguntas do que respostas.
O Censo de 2006 (IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)  concluiu que o rebanho brasileiro seria de 171,6 milhões de cabeças.  Porém, o mesmo IBGE indica um rebanho de 205,8 milhões de cabeças para o  ano de 2006 na pesquisa pecuária municipal, ou PPM como é conhecida.
A diferença entre ambos os dados, em torno de 34 milhões de cabeças,  supera o rebanho do México e da Austrália que ocupam, respectivamente, a  oitava e a décima posição no ranking mundial de rebanhos bovinos,  segundo a FAO (Food and Agricultural Organization), da Organização das  Nações Unidas.
Ainda que o rebanho da Austrália seja o décimo maior do mundo, o país  ocupa o quinto lugar no ranking de produção de carne bovina, também de  acordo com a FAO. Essa comparação, sempre lembrada por diversos  articulistas, nos serve para estabelecer o grau da seriedade da  contradição entre as informações oficiais da pecuária brasileira.
Apesar de existirem diversas outras estimativas para o tamanho do  rebanho brasileiro, não é lógico fugirmos dos dados do IBGE. É o único  instituto que reúne informações suficientes para chegar o mais próximo  possível da realidade. Os demais institutos, ou empresas privadas, não  possuem orçamento e nem metodologia permanente para contabilizar o  rebanho brasileiro.
Mesmo trabalhando com critérios rigorosos, e bem baseados para estimar o  rebanho, não haveria como superar uma fonte pesquisada. Isso tudo  aumenta a frustração em torno da divulgação de dados tão incoerentes  sobre a mesma realidade.
Pois bem, o objetivo do texto é discutir o avanço da produtividade e não  o tamanho do rebanho. Embora o tema seja de grande importância, muito  já se falou sobre o assunto.
A mesma informação pesquisada pelo IBGE, que chegou ao rebanho de 171,6  milhões de cabeças bovinas no Brasil, identificou uma ocupação média de  0,93 hectare por bovino. Se o rebanho for realmente menor, estaríamos  falando de uma área total de pastagens em torno de 159,6 milhões de  hectares em 2006.
Todas as publicações e artigos consideram áreas de pastagens de 170  milhões a 220 milhões de hectares. A informação mais aceita é a área de  pastagens em uso girando por volta de 175 milhões de hectares, além de  outros 45 a 50 milhões de hectares degradados.
É outra informação que nos leva a questionar os dados do Censo de 2006.  Pelo próprio censo anterior, realizado 10 anos antes, em 1996,  estaríamos considerando uma redução da área da ordem de 17,9 milhões de  hectares, frente a um aumento de rebanho da ordem de 18,5 milhões de  cabeças.  Essa área é proporcional a todo o pasto do Estado de Goiás.
Sendo assim, é preciso estabelecer parâmetros e optar por uma ou outra  fonte de informação que seja contundente e possibilite compreender o  ocorrido na pecuária brasileira.
Considerando que os critérios para coleta de informações do Censo tenham  sido seguidos na pesquisa, é possível considerar que o dado de ocupação  da área, divulgado no Censo 2006, seja coerente.
Em outras palavras, estaríamos assumindo que o Censo foi eficiente no  tratamento dos dados coletados, mas ineficiente em coletar os dados de  todo o rebanho nacional. É uma hipótese.
Com isso, teríamos o rebanho de 2006 oscilando de 171,6 a 205,8 milhões  de cabeças e a área de pastagens entre 159,6 e 175,5 milhões de  hectares.
Observe, na figura 1, a evolução da ocupação da área de pastagens nos  últimos censos agropecuários realizados entre 1940 e 2006.
Hoje, o rebanho mais aceito entre os profissionais da pecuária de  corte é o apresentado pela pesquisa pecuária municipal (PPM), o qual  continuaremos a adotar até que informações mais coerentes sejam  divulgadas.
Considerando que a eficiência de uso de pastagens veio aumentando  proporcionalmente ao indicado pelos históricos dos Censos agropecuários,  em 2009 a ocupação da área pela pecuária seria em torno de 1,16 animais  por hectare.
Projetando o rebanho de 2009 pela pesquisa pecuária municipal podemos  estimar um rebanho de 203,6 milhões de cabeças ocupando uma área de  174,95 milhões de hectares.
Observe, a figura 2, como o rebanho continua crescendo, enquanto as  pastagens estabilizam-se por um período e começam lentamente a recuar  nos últimos anos.
O recuo é comprovado pelo avanço da agricultura em áreas de pastagens  nos últimos anos.
Claramente, na figura, é possível notar a redução do rebanho nos anos  de ciclo de baixa nos preços. Neste período houve um aumento no número  de cabeças abatidas. Logo em seguida, o rebanho voltaria a aumentar  tanto pela redução do abate como pela retenção de matrizes, consequência  da virada do ciclo pecuário para o período de alta.
Com pouca alteração anual nos índices de natalidade, a oscilação do  rebanho é relacionada com os movimentos de aumento ou redução do abate.  Este, por sua vez, depende da produção de carne para atender a demanda.
Na figura 3 é apresentada a produção anual de carne bovina em mil  toneladas de equivalente carcaça. A definição de equivalente carcaça é  uma forma de padronizar toda a produção industrial em carcaças bovinas.
Sendo assim:
1 kg de carne em carcaça = 1 kg de equivalente carcaça;
1 kg carne desossada = 1 ,3 kg de equivalente carcaça;
1 kg de carne industrializada = 2,5 kg de equivalente carcaça.
Comparando evolução da produção de carne com a evolução da área, nota-se um aumento de 84% na produtividade por área ocupada no período de 1994 a 2009. Observe a evolução da produtividade na figura 4.
O aumento da produtividade entre 2006 e 2007 é artificial, reflexo do  descarte de matrizes, aliado a demanda favorável para a carne  brasileira.
Traçando uma linha de tendência, e desconsiderando ambos os anos,  chega-se aos 84% de ganho de produtividade neste período.
Veja que a produtividade de carne por área aumentou os referidos 84%,  enquanto a lotação por hectare aumentou 30,7% no mesmo período,  evidenciando que a maior parte do ganho de produtividade foi proveniente  de tecnologias relacionadas ao próprio animal, ou tecnologias da área  zootécnica.
Em termos agronômicos (pastagens e produção de forragens), a pecuária de  corte ainda tem muito espaço para agregar em produtividade. Por isso  que é possível afirmar que a produção de carne bovina no Brasil pode  crescer muito mais, atendendo o mercado crescente em todo o planeta, e  destinando maiores parcelas de suas áreas para a agricultura.
Para os próximos anos podemos esperar um ganho de produtividade bem  superior ao que foi observado neste passado recente.
Em ocupação de área, rentabilidade e proteção ambiental, a pecuária  brasileira pode ser muito mais relacionada a oportunidades do que a  ameaças. Basta querer enxergar fatos e dados.
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